Seja bem vindo(a)

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Pensamento do mês de setembro:

"Onde o amor impera, não há desejo de poder; e onde o poder predomina, há falta de amor. Um é a sombra do outro." (Carl Gustav Jung)

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Polifonia angustiada (E o interlúdio para a prece?!?)

Tento em vão um minuto de silêncio, de paz e introspecção...
Tento, tento e tento... Incansavelmente, tento.
Mas é esforço vão.


Retomo hoje o blog digitando cada tecla com aquele tipo de fúria que urge por algo que sinceramente não sei bem definido em mim.

É quase uma catarse.

São vários os sentimentos povoando minha mente sobre a tragédia das chuvas no Sudeste e por que não, em todo o país ao longo desses últimos anos que me p
ermiti um mergulho egoísta sobre o que tudo isso provocou em mim.

Não querendo negligenciar as dores de quem vem protagonizando as manchetes dos noticiários, ao fim do primeiro dia de horror, sem me dar conta, após acompanhar a tudo o que acontecia através de um canal de notícias na Tv fechada, dei por mim telefonando para mamãe pra alertá-la que sentia meu peito apertar (acompanhado daquela angústia), pronto pra sangrar, julgando (erroneamente) que algo de ruim poderia acontecer e que portanto, ela avisasse ao restante da nossa família pra que ficassem mais cuidadosos consigo mesmos...


Desliguei o telefone.

Parti pra concluir a janta que eu fazia e durante este processo, eu tardiamente refleti:
O que havia pra acontecer de ruim, já havia acontecido. E por isso eu sentia aquela angústia que eu julgava injustificada. Afinal, como ficar indiferente a tragédia coletiva e pior, recorrente, em nossos verões?!?

Dando-me ao direito de ser conscientemente individualista, constato que há tempos que não dissocio meu período de férias profissionais às tragédias das chuvas no Estado do Rio de Janeiro, quando não em todo nosso país...
Sinceramente não pude destacar um verão sequer que não tivesse uma tragédia anunciada e que fosse justificada pelos efeitos ambientais... A forma que a mídia conduz a cobertura (quase, pra não dizer, sempre tendenciosa) dos fatos triplica minha ânsia por repúdio a situação caótica que até então tem se estabelecido. As coberturas jornalísticas se alternam entre a repetição de imagens de impacto, a busca por culpados, (e talvez pior) a falsa pretensão da busca pela "veracidade" dos fatos comprometendo a própria dignidade humana, quando vasculha as dores e mazelas alheias, oferecendo a situação um trato próprio de objeto de audiência...rs

Com tudo isso eu não poderia me colocar num lugar comum e perguntar, enfim, de quem seria a culpa...
Confesso que relego a busca por essa resposta aos infindos comentaristas, especialistas, jornalistas, governistas, oposicionistas, juristas, etc e etc... que se alternam entre seus segundos de fama.

( Argh!
)

Ainda enquanto eu preparava a suculenta macarronada ao molho de tomate e as sobrecoxas na manteiga (temperada com várias especiarias), me surpreendi com pesar constatando minha condição crescente de indignação com a situação, beirando o questionamento sobre minha própria insensibilidade frente os acontecimentos...


Assumo que ao longo dos anos sinto-me apática frente as tragédias anunciadas que poderiam ser evitadas.
Confrontando a mim mesma percebo que tem sido crescente minha dificuldade em sentir a dor das diversas vítimas, em seus recorrentes dissabores e perdas coletivas...

E assim, num vergonhoso crescente, tenho me deparado com muito mais indignação que solidariedade. E aquela se impõe com cada vez mais furor aos diferentes e infindáveis relatos (da tragédia) que percorrem os transportes coletivos, as ruas, as rodas de amigos, os frequentes recados nas redes sociais, o comércio, o consultório médico, a vizinhança e enfim minha própria casa junto aos meus familiares, amigos e aos funcionários que recebo em meu lar...
Sem mencionar a onipresença da mídia...

"MeoDeos"... Será que estou pirando?!? Estarei aqui revelando meu surto desvairado?!? Desnudei na rede virtual a obscuridade da minha (des)conhecida face sombria?!? Dramas à parte, só sei que com esse desabafo sinto que na estética da modernidade não há lugar para o luto alheio, nem para a privacidade...
E haveria lugar para a dignidade (?!??), seja do outro em sua dor, seja de quem almeja, como eu, apenas um minuto de introspecção, para na paz de meus devaneios durante a feitura do jantar, ao menos ousar, mesmo que indigestamente, absorver a situação e direcionar uma prece a quem realmente merece minha atenção e misericórdia neste momento de dor coletiva.